As habilidades sociais são definidas como um conjunto de comportamentos que possibilitam ao indivíduo interagir de maneira adequada e eficaz em contextos interpessoais diversos, favorecendo a qualidade das relações e o bem-estar (Del Prette & Del Prette, 2001, 2017). Essas habilidades englobam, por exemplo, a capacidade de iniciar e manter conversas, expressar sentimentos, defender direitos de forma assertiva, lidar com críticas e resolver conflitos.
Segundo Del Prette e Del Prette (2005), o desenvolvimento das habilidades sociais está diretamente relacionado à adaptação do indivíduo em diferentes contextos, sejam eles, familiar, escolar, profissional e comunitário. Elas funcionam como um recurso protetivo que contribui para a saúde mental, o desempenho acadêmico e a inserção social.
A ausência ou o déficit de habilidades sociais pode trazer sérios impactos para a vida do indivíduo. De acordo com Del Prette e Del Prette (1999, 2001), as principais consequências incluem:
Além disso, os autores destacam que tais déficits podem perpetuar ciclos de exclusão, uma vez que a falta de competência social restringe as oportunidades de criar relacionamentos, reforçando sentimentos de inadequação (Del Prette & Del Prette, 2010).
Vale ressaltar que, as habilidades sociais não são apenas recursos individuais, são também competências sociais fundamentais para a vida em comunidade. A capacidade de cooperação, empatia, negociação e resolução de conflitos contribui para ambientes mais saudáveis e produtivos, desde a escola até o mercado de trabalho.
Por outro lado, o déficit de tais habilidades pode gerar consequências amplas, como aumento da evasão escolar, dificuldade de inclusão no mercado formal e maior sobrecarga nos serviços de saúde e assistência social.
Sendo assim, torna-se evidente que o ensino e o treino de habilidades sociais devem ser considerados elementos centrais em programas educacionais e terapêuticos. Investir em tais competências significa promover bem-estar individual, integração social e desenvolvimento coletivo.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por alterações na comunicação social, na interação, nas competências sociais e na linguagem, além da presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, ou seja, o no TEA, o treino de habilidades sociais é imprescindível.
A diversidade de metodologias utilizadas historicamente para o ensino de habilidades sociais em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é ampla, incluindo modelagem em vídeo, treinamento de habilidades comportamentais, histórias sociais, intervenções mediadas por pares, intervenções antecedentes, currículos manualizados, pivotal response training, milieu teaching, intervenções naturalísticas, reforçamento, script fading, discrete trial training e estratégias de automanejo (Radley et al., 2020).
No entanto, apesar da eficácia reconhecida de tais métodos, os especialistas enfrentam desafios significativos relacionados ao tempo e esforço para a construção de cenários instrucionais diversificados, bem como às limitações impostas por situações que não podem ser facilmente replicadas no ambiente clínico (Dyson et al., 2019).
Nesse contexto, torna-se fundamental a busca por estratégias e recursos para intervenção que sejam acessíveis e capazes de simular experiências sociais. A realidade virtual (RV) desponta como um recurso promissor, com estudos demonstrando evidências crescentes de eficácia em intervenções voltadas ao desenvolvimento de habilidades sociais no TEA (Amaral et al., 2018; Babu et al., 2017; Bozgeyikli et al., 2016; Hocking et al., 2022; Kim et al., 2024; Maskey et al., 2019; Moon & Ke, 2023; Schmidt & Glaser, 2021; Welch et al., 2010; Yang et al., 2018).
Indivíduos com TEA frequentemente demonstram entusiasmo pelo uso de tecnologias digitais (Chen et al., 2019; Lahiri et al., 2013; Moore & Calvert, 2000; Parsons & Mitchell, 2002; Schmidt & Schmidt, 2008) e apresentam fortes memórias visuais (Bozgeyikli et al., 2018), o que torna intervenções digitais especialmente atrativas e eficazes. Em paralelo, os avanços tecnológicos têm progressivamente substituído metodologias convencionais por abordagens digitais no ensino e treino de habilidades sociais.
A RV permite criar simulações de ambientes do mundo real e possibilita repetição, manipulação e controle de situações sociais (Lorenzo et al., 2016; Parsons, 2016; Siano et al., 2015). Assim, seu uso no campo do TEA torna-se cada vez mais inevitável e estratégico.
Nesse cenário, o Thera Social, desenvolvido pela Therafy, surge como uma plataforma pioneira de aplicação da realidade virtual com inteligência artificial para o treinamento de habilidades sociais. Voltado para adolescentes e adultos com TEA ou com dificuldades de comunicação em geral, o recurso permite que os usuários pratiquem a conversação em ambientes realistas.
A comunicação é uma habilidade complexa que envolve iniciar, manter e finalizar interações sociais de forma adequada. Para muitas pessoas, sobretudo no espectro autista, esse processo pode ser fonte de ansiedade, frustração e isolamento. O Thera Social surge como uma solução tecnológica para fragmentar o aprendizado dessa competência em etapas menores e mais acessíveis, permitindo a prática no ambiente clínico até que a habilidade seja consolidada.
No ambiente de realidade virtual, o paciente pode interagir com personagens realistas controlados por inteligência artificial, que respondem de forma dinâmica às falas do usuário. Isso cria uma experiência próxima da vida real, mas sem os riscos de julgamentos ou consequências sociais negativas.
Na primeira versão, o Thera Social apresenta os personagens Paulo e Olívia, inseridos no contexto de uma escola, permitindo simulações realistas de interações entre colegas. A escolha do ambiente escolar reflete sua relevância como espaço central para o desenvolvimento social de adolescentes.
O Thera Social é revolucionário dentro do campo do neurodesenvolvimento, pois utiliza inteligência artificial de última geração, aliado a aplicação da tecnologia de realidade virtual para possibilitar diálogos dinâmicos, aumentando a naturalidade das interações e favorecendo a generalização para situações do cotidiano, tudo isso, de forma segura e mediada pelos profissionais.
O jogo Thera Social está estruturado para ser utilizado em todas as fases do processo terapêutico, desde a avaliação inicial, passando pela intervenção, prática e encerrando com a avaliação final. Sendo assim, de forma estruturada, o profissional irá obter dados fidedignos e ecológicos sobre o desenvolvimento da competência social do paciente, sem depender apenas dos auto relatos e dos relatos da família. Conheça a estruturação do Thera Social:
Relatórios Detalhados na Área do Usuário
Um dos grandes diferenciais do Thera Social é a geração de relatórios individualizados, acessíveis na área do usuário. Esses relatórios fornecem dados objetivos sobre o desempenho do paciente, incluindo:
Esse ciclo contínuo permite que pacientes e profissionais acompanhem a evolução real das habilidades sociais durante todo o processo, com métricas claras que dão suporte a decisões clínicas mais assertivas.
Nesta primeira versão, o Thera Social está centrado na escola, no entanto, o planejamento prevê a expansão para novos cenários e personagens. O time já iniciou o próximo cenário, que refletirá o desafio de interação social em uma festa, na casa de um colega. Cada atualização trará contextos que refletem os desafios sociais enfrentados no cotidiano, ampliando as possibilidades de prática e generalização.
O Thera Social soma-se a outras experiências da plataforma Therafy, que já oferece jogos em realidade virtual voltados para o desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e emocionais, como o Thera Fala, Thera Rua, Thera Cria e Thera Letra. Com esse lançamento, ampliamos a missão de democratizar o acesso a tecnologias assistivas inovadoras para pessoas com autismo e outras condições.
Acesse agora o Thera Social e descubra como elevar sua prática clínica ao próximo nível, com o uso de tecnologia de ponta.
Se você já é assinante, baixe o app Thera Social na loja da Oculus e faça o seu login.
Se você ainda não faz parte do time de Thera Experts, conheça nossos planos e assine agora mesmo aqui.
Referências
BOZGEYIKLI, Lal; RAIJ, Andrew; KATKOORI, Srinivas; ALQASEMI, Redwan. Vocational training with immersive virtual reality for individuals with autism: towards better design practices. In: 2016 IEEE 2nd Workshop on Everyday Virtual Reality (WEVR). Anais [...]. IEEE, 2016. p. 21–25. Disponível em: https://doi.org/10.1109/WEVR.2016.7859539
COOPER, John O.; HERON, Timothy E.; HEWARD, William L. Análise do comportamento aplicada. 2. ed. São Paulo: Santos Editora, 2021.
DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Competência social e habilidades sociais: manual teórico-prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira; DEL PRETTE, Almir. Habilidades sociais e análise do comportamento: Proximidade histórica e atualidades. Perspectivas, São Paulo , v. 1, n. 2, p.104-115,2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-35482010000200004&lng=pt&nrm=iso> . Acesso em 14 agosto de 2025.
DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira; DEL PRETTE, Almir. Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira; DEL PRETTE, Almir. Psicologia das habilidades sociais: terapia e educação. Petrópolis: Vozes, 2001.
DYSON, Margaret W.; CHLEBOWSKI, Colby; BROOKMAN-FRAZEE, Lauren. Therapists’ adaptations to an intervention to reduce challenging behaviors in children with autism spectrum disorder in publicly funded mental health services. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 49, n. 3, p. 924–934, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10803-018-3795-3
KIM, Sung-In; JANG, So-youn; KIM, Taewan; KIM, Bogoan; JEONG, Dayoung; NOH, Taehyung; JEONG, Mingon; HALL, Kaely; KIM, Meelim; YOO, Hee Jeong; HAN, Kyungsik; HONG, Hwajung; KIM, Jennifer G. Promoting self-efficacy of individuals with autism in practicing social skills in the workplace using virtual reality and physiological sensors: mixed methods study. JMIR Formative Research, v. 8, n. 1, e52157, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.2196/52157
LORENZO, Gonzalo; LLEDÓ, Asunción; POMARES, Jorge; ROIG, Rosabel. Design and application of an immersive virtual reality system to enhance emotional skills for children with autism spectrum disorders. Computers & Education, v. 98, p. 192–205, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.compedu.2016.03.018
RADLEY, Keith C.; DART, Evan H.; BRENNAN, Kayleigh J.; HELBIG, Kate A.; LEHMAN, Erica L.; SILBERMAN, Magenta; MENDANHALL, Kai. Social skills teaching for individuals with autism spectrum disorder: a systematic review. Advances in Neurodevelopmental Disorders, v. 4, p. 215–226, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s41252-020-00170-x
RAJ, Pradeep K. B.; OZA, Poojan; LAHIRI, Uttama. Gaze-sensitive virtual reality based social communication platform for individuals with autism. IEEE Transactions on Affective Computing, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1109/TAFFC.2016.2641422
SCHMIDT, Matthew; GLASER, Noah. Investigating the usability and learner experience of a virtual reality adaptive skills intervention for adults with autism spectrum disorder. Educational Technology Research and Development, v. 69, n. 3, p. 1665–1699, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11423-021-10005-8
PARSONS, Sarah. Authenticity in virtual reality for assessment and intervention in autism: a conceptual review. Educational Research Review, v. 19, p. 138–157, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.edurev.2016.08.001
WELCH, Karla Conn; LAHIRI, Uttama; WARREN, Zachary; SARKAR, Nilanjan. An approach to the design of socially acceptable robots for children with autism spectrum disorders. International Journal of Social Robotics, v. 2, n. 4, p. 391–403, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s12369-010-0063-x
YANG, Y. J. Daniel; ALLEN, Tandra; ABDULLAHI, Sebiha M.; PELPHREY, Kevin A.; VOLKMAR, Fred R.; CHAPMAN, Sandra B. Neural mechanisms of behavioral change in young adults with high-functioning autism receiving virtual reality social cognition training: a pilot study. Autism Research, v. 11, n. 5, p. 713–725, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1002/aur.1941